Analysis of Ainda uma vez — Adeus

Antônio Gonçalves Dias 1823 (Caxias) – 1864 (Guimarães)



Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!

Louco, aflito, a saciar-me
D’agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.

Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!

Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!

Oh! se lutei!... mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?

Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t’esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T’esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!

Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!

Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
“Ela é feliz (me dizia)
“Seu descanso é obra minha.”
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!

Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!

Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu’era...
E um louco fui, nada mais!

Louco, julguei adornar-me
Com palmas d’alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
C’o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.

Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!

És doutro agora, e pr’a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!

Dói-te de mim, que t’imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

Adeus qu’eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia
Meus versos d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade <


Scheme ABBCABBB BAAABBBA BBDBEDDF FCCAGBBA ABBEBCCX ABDAAEEB CDDAABBA FAACFCCC XBBCECCC CBXFAHHI EFFACAAA ACCABCCA BBXXCDBX ICCACCCA CCCAABBA CBBACBBA CGGAEBBA DAAGAB
Poetic Form
Metre 11111 1011111 1111111 1111 1111 1111 111 0111111 110011 1111 11111 11111 1111011 1101101 111111 111111 11011 111 1111110 1111 11111 111110 11110 11111 11111 10110110 1111 1111111 1111101 11111 1111 110111 1111111 11111 111111 1111 101111 11101 111111010 111111 1111 1111 11101010 11111 11111 101111 1011111 1111 1111010 1111110 101110 1111101 01011 11111 10101101 110111 010111 1111 111110 11110 1111 111111 111110100 111111 1111011 111111 1111111 1111 1111111 1111111 111 1011101101 1111110 11101 1010101 111011 101011 1111 11011 1111 1111 11111 1111 110111 11100111 1011111 111 1111 1111 1111 111110 111111 1111 11111 111111 1111101 1111 1111 1111011 111101 11101111 111110 1111 1011111 111111 111110 1111100 11011 1101010 11101 11101 111110111 11100111 10111 11111 11111 11111111 111101 1001111 111101 1111111 1101111 1111111 11110 1111110 1111111 11111111 1111111 1111 11111 10101 111011 1110101 111 11011 11111 1111110 11101 111 111111 1111 101111
Closest metre Iambic pentameter
Characters 3,941
Words 682
Sentences 51
Stanzas 18
Stanza Lengths 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 8, 6
Lines Amount 142
Letters per line (avg) 20
Words per line (avg) 5
Letters per stanza (avg) 156
Words per stanza (avg) 37
Font size:
 

Submitted on May 13, 2011

Modified on March 05, 2023

3:24 min read
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Antônio Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias was a Brazilian Romantic poet, playwright, ethnographer, lawyer and linguist. more…

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    "Ainda uma vez — Adeus" Poetry.com. STANDS4 LLC, 2024. Web. 29 Apr. 2024. <https://www.poetry.com/poem-analysis/3550/ainda-uma-vez-%E2%80%94-adeus>.

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